

Breve História...
A Estomatologia é a mais antiga especialidade médica portuguesa. O seu nome deriva do neologismo «Stomatologie» criado pelo médico Edmond Andrieu no ano de 1868. Todavia, o grande impulsionador da Estomatologia foi Emile Magitot, ao criar em Paris no ano de 1888, a Societé de Stomatologie e posteriormente, em1894, a Revue de Stomatologie.
A escola francesa adquire grande prestígio e a Estomatologia é reconhecida como especialidade médica no XIII Congresso de Medicina (Paris 1900). Os médicos portugueses, especialmente os cirurgiões, entusiasmam-se com a nova especialidade e fazem a sua formação nos hospitais franceses ou na École de Stomatologie de Paris fundada em 1910.
Em Portugal, o XV Congresso Internacional de Medicina (Lisboa, 1906) consagra a Estomatologia como especialidade reservada a médicos.
Em 1909, Amor de Melo funda, em Lisboa, a primeira consulta hospitalar «das doenças da boca e dentes», precursora do Serviço de Estomatologia do hospital de São José. É-lhe concedida autorização para iniciar um «Curso de Estomatologia».
Por decreto lei de maio de 1911 é criada a especialidade de Estomatologia reiterando o documento que o seu exercício se destina a «…médicos diplomados pelas faculdades de medicina da republica». Nascia uma controvérsia que haveria de perdurar muitos anos, agravada pela confusão legislativa nacional.
A Estomatologia entra no plano de estudos da Faculdade de Medicina do Porto em 1918 e na mesma cidade, no hospital de Santo António, é fundada a consulta de Estomatologia.
Em 1919 nasce a Sociedade Portuguesa de Estomatologia (SPE), pioneira das sociedades médicas nacionais e até da Península Ibérica. O seu primeiro presidente, Tiago Marques, foi o fundador da consulta de Estomatologia do Hospital de Santa Marta.
A revista da SPE «Revista Portuguesa de Estomatologia» é publicada pela primeira vez em 1934. Mudará de nome em 1960 passando a chamar-se «Revista Portuguesa de Estomatologia e Cirurgia Maxilofacial» antevendo-se já a possibilidade de a Estomatologia originar outras especialidades.
É esta SPE que continuará empenhada na formação de novos especialistas, apesar do isolamento científico e dos constrangimentos económicos impostos pela segunda guerra mundial.
Com a criação da Ordem dos Médicos em 1938, é este organismo que passa a regular a habilitação ao título de especialista. Em 1944 a Estomatologia é a especialidade mais numerosa e o primeiro júri para obtenção do título reúne em Lisboa no ano de 1948.
Na segunda metade do século XX assiste-se ao aparecimento da revista «Odontoestomatologia portuguesa» e do «Jornal de Estomatologia» e são fundados vários serviços de Estomatologia por todo o pais. O I Congresso Nacional de Estomatologia tem lugar no hospital de Santa Maria em 1958.
Durante a década de 70, por iniciativa de vários estomatologistas, são criadas as Escolas Superiores de Medicina Dentária de Lisboa, Porto e Coimbra.
Em 1977 são criados os colégios da Ordem dos Médicos (em substituição das comissões das especialidades) e em 1983 o internato de Estomatologia é reformulado para 4 anos. A chamada dupla titulação (dos hospitais públicos e da Ordem dos Médicos) é abandonada em 1995 passando a existir um exame único nacional para obtenção do título de especialista em Estomatologia.
Em dezembro de 2001, no Porto, nasce a Associação dos Médicos Estomatologistas Portugueses (AMEP). Na sua génese, afirma Manuel Falcão, o seu primeiro presidente, «a AMEP é um grito de revolta contra os poderes instalados que, no fim do século XX, não olharam a meios para atingirem fins, ignorando direitos e tentando apagar a história». Seis meses depois realiza-se a «1ª Reunião Científica Anual da AMEP» e é criada a revista AMEP.
Em 2006 a Ordem dos Médicos autoriza a criação da subespecialidade de ortodôncia, mas o processo de admissão por consenso arrasta-se até 2011.
Atualmente a Estomatologia aguarda a aprovação do seu novo plano de estudos, prevendo-se o aumento do internato para 5 anos.
Desde 2012, e em face de um progressivo envelhecimento dos quadros hospitalares, a promessa de futuro da especialidade tem sido assegurada com a entrada anual de novos internos o que, desde 2016, já permitiu a graduação de 34 novos especialistas. Por outro lado, em setembro de 2020 havia em Portugal cerca de 550 estomatologistas, dos quais cerca de 144 estomatologistas hospitalares e temos em formação, de Norte a Sul, 54 médicos internos de especialidade, em 11 dos 27 Serviços hospitalares de Estomatologia do SNS, o que, com certeza, fará toda a diferença para o futuro da especialidade, e se encarregará de desmentir os que anunciavam o fim de uma especialidade médica!
A AMEP continua a pugnar pela qualidade da formação em Estomatologia realizando cursos e congressos e editando, semestralmente, a sua revista!